Débora Rosane
2 min readSep 16, 2022

Urbanidade (exercício de contemplação do cotidiano)

📸: Canindé Soares

Após um longo dia sem descanso,
Da janela do ônibus a cidade se revela

misturando-se à natureza.
É um verdadeiro remanso pro coração.

Às margens do Rio Potengi
Os barcos pescam e o sol
No horizonte se declina
em tom alaranjado-avermelhado
colorindo o azul do céu ainda não estrelado.

A ponte se a l o n g a para que se chegue à outra ponta, mas
embaixo de si ainda tem muita água para passar.
Por ela muitos passam, embora poucos percebam a sua generosidade
ao permitir que se passe sem os pés molhar e ao mesmo tempo os olhos encher.

Um trem perpassa sorrateiro ligeiro
cortando o ronco do motor do ônibus
deslumbrando a criança diante dos trilhos
direcionando o olhar dos curiosos passageiros.

Pensamentos sentimentos
Fluem sorrateiros e perpassam ligeiros,
assim como o trem que cortou o ronco do motor do ônibus
e desviou todas as atenções para si,
misturando-se às mensagens desencontradas dos outdoors.

Do passado só me lembro, não repito.
O presente vivo intensamente, mas com cautela.
Do futuro se encarrega Alguém que é maior que eu.
Guardo os pensamentos dentro do armário do coração.
A paisagem lá fora não se deixa esconder.

Chego ao destino, mas a urbanidade fará companhia ao próximo passageiro que se deixar entreter com pensamentos e contemplações.

Texto escrito no dia 30/09/2008, enquanto fazia o meu trajeto de ônibus atravessando a cidade em direção ao meu trabalho.